A Cinética Química     

1. Princípio da teoria de Arrhenius

Consideremos uma reação simples entre duas espécies químicas A e B, que se transformam em duas outras espécies C e D. Se a reação está em equilíbrio, a reação inversa também ocorre. Estas reações dão-se por colisão entre as moléculas, se a energia das moléculas que colidem for igual ou superior a um certo limite ΔA (energia de ativação) e se a disposição (orientação) respetiva das duas espécies for a correta. A energia da reação entre A e B é ΔE

N - número de moléculas por L
NA, N- número de moléculas A e B por L
Na - número de Avogadro
nA, n- número de moles A e B por L
σ   - secção eficaz para a reação
τ    - tempo médio entre duas colisões
vm  - velocidade média das moléculas
l = 1/(Nσ ) = vm τ    - livre percurso médio
Vs - Volume da mistura
x - avanço da reação

2. Definição da velocidade

v = d(x/VS)/dt

A velocidade da reação é proporcional à probabilidade de reação entre A e B, probabilidade esta que depende da quantidade de moles por unidade de volume nA, nB
v = k1 nAn     (k1 é a constante de velocidade da reação entre A e B)

3. Constante de velocidade

A velocidade da reação entre A e B é igual ao número de reações por segundo e por unidade de volume. Este número corresponde ao número de colisões multiplicado pela probabilidade da colisão originar uma reação. Esta probabilidade é o produto da probabilidade da colisão se dar entre A e B e da probabilidade dessa colisão originar uma reação. Esta última é, por sua vez, o produto da probabilidade de que a energia da colisão seja superior a ΔA e que o arranjo das moléculas seja o correto.

Número de reações por segundo: N/τ      (τ é o tempo médio entre duas colisões e N/τ é, portanto, o número de colisões por segundo.)
Probabilidade de que a colisão se dê entre A e B : NA/N  NB/N
Probabilidade de que a energia da colisão seja superior a
ΔA : e-ΔA/kT    (fórmula de Boltzmann)
Probabilidade de que o arranjo das moléculas seja o correto : ζAB

Na v  = ζAB e-ΔA/kT NA/N  NB/N  N/τ   =   ζAB /(Nτ)   e-ΔA/kT  NANB =   ζAB σAB vm Na²   e-ΔA/kT  nAnB
1/2 m vm² = 3/2 kT portanto vm = (3 kT/m)1/2      (m    massa média dos dois reagentes (e dos dois produtos))
 k1 = ζAB σAB Na (3 kT/m)1/2  e-
ΔA/kT
O mesmo se passa para a reação inversa entre C e D:  k2 = ζCD σCD Na (3 kT/m)1/2   e-
(ΔA + ΔE)/kT

4. Constante de equilíbrio da reação K

Para uma reação em equilíbrio v =  k1 nAn k2 nCnD
Em equilíbrio a velocidade é nula, portanto 
k1 nAn k2 nCnD
Por definição, K = nCnD/nAnportanto 
K = k1/k= ζAB σAB (3 kT/m)1/2   e-ΔA/kT   /( ζCD σCD (3 kT/m)1/2   e-(ΔA + ΔE)/kT )  =  ζAB σAB/ ( ζCD σCD e ΔE/kT 

K = ζAB σAB/ CD  σCD)   e ΔE/kT 
Definimos ζAB σAB/ CD  σCD) = Ki                 Ki é a constante de equilíbrio apara T infinito

K = Ki  e ΔE/kT 

Nas tabelas, as constantes de equilíbrio são indicadas para uma temperatura de 25 ºC (298 K : temperatura standard)
K25Ki  e ΔE/(298k) 
K = K25  e (ΔE/kT - ΔE/(298k) )
K = K25  e ΔE/k  (1/T - 1/298) )

Numa reação exotérmica ( ΔE > 0 ) K diminui com o aumento da temperatura, o que favorece a reação endotérmica inversa.
Numa reação endotérmica ( ΔE < 0 ) K aumenta se aumenta a temperatura, o que favorece a reação endotérmica direta.
Numa reação atérmica ( ΔE = 0 ) o equilíbrio é independente da temperatura. É o caso da esterificação.
Isto está de acordo com as leis de limitação de Vant'Hoff - Le Chatellier.

5. Equação diferencial

tempo A B C D
0 n0A n0B 0 0
t n0A - nC  n0B - nC nC nC

v =  d nC/dt = k1 nA nB - k2 nC n=  k1 (n0A - nC ) ( n0B - nC )  - k2 nC²  =  k1 n0A n0B  -  k1 ( n0A + n0B ) nC  + ( k1 - k2 ) nC²

dnC/dt   +  k1 ( n0A + n0B ) nC  - ( k1 - k2 ) nC²  =   k1 n0A n0B

Solução numérica :

 n0A = 1 mol/L

 n0B = 1 mol/L

k1 = 0,1 L/mol/s

k2 = 0,025 L/mol/s

K = k1/k= 4
nCmax = K1/2/(K1/2 + 1) n0B  = 0,667 mol/L

Caso particular:
  
n0A >>  n0B         portanto      k1 (n0A + n0B) nC  >>  (k1 - k2) nC²  
dnC/dt   +  k1 (n0A + n0B) nC  - (k1 - k2) nC²  =   k1 n0A n0B   
passa a:
dnC/dt   +  k1 n0A nC  =   k1 n0A n0B    
A solução é:    n =  n0B   (1 - exp(- k1 n0A t ))    A constante de tempo  τ   = 1/(k1 n0A)      (A t = τ,  nC = 63% de nCmax

 n0A = 1 mol/L
 n0B = 0,01 mol/L

ΔA = 52 kJ/mol
nCmax = 0,01 mol/L

A 25°C    k1 = 0,1 L/mol/s  
τ = 1/(k1 n0A) = 10 s   (A t = 10 s, nC = 0,0063  mol/L)

A 15°C    k1 = 0,0474 L/mol/s      τ = 21 s
A 35°C    k1 = 0,201 L/mol/s        τ = 5 s 

     Traduzido e adaptado para a Casa das Ciências por Diana Barbosa e Manuel Silva Pinto em Setembro de 2011