Constante de Boltzmann
k = 1,380 650 3 × 10-23 J/K
Constante de Planck h = 6,626 068 74 × 10-34 J.s
Velocidade da luz
c = 299 792 458 m/s
1. Transições energéticas nos átomos
1.1 Níveis de energia nos átomos
A energia dos átomos é quantificada, não pode tomar um valor arbitrário.
Os valores permitidos são chamados de níveis de energia do átomo. Os eletrões preenchem esses níveis de energia e o
último nível ocupado por, pelo menos, um eletrão é o nível fundamental. Os níveis superiores são chamados de níveis excitados.
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O esquema ao lado esquerdo representa os 20 primeiros níveis de energia do átomo de Sódio,
sem ter em consideração a escala.
Cada nível contém subníveis que podem conter, cada um, 2 e- de spin oposto.
s ( L = 1 ) : 1 subnível : 2e-
p ( L = 2 ) : 3 subníveis : 6e-
d ( L = 3 ) : 5 subníveis : 10e-
f ( L = 4 ) : 7 subníveis : 14e-
n ( L = n ) : (2n-1) subníveis : (4n-2)e-
Os eletrões de sódio ocupam os níveis:
1s ( 2e- ), 2s ( 2e- ), 2p ( 6e- ) e 3s ( 1e- )
O nível fundamental do sódio é o nível 3 s.
A "famosa" risca amarelo-alaranjada do sódio a 589 nm, que é usada para iluminar
rotas nos nossos túneis é devida à transição de 3p para 3s ( 2,105 eV ). |
1.2 Emissão e absorção de um fotão por um átomo

Um fotão que tenha uma energia hν
igual à diferença entre a energia do nível fundamental Ef e a de um nível excitado En,
pode ser absorvido, o que conduz o átomo à energia En. Diz-se que está então num estado excitado.
Condição de absorção de um fotão:
hν = hc/λ = En - Ef
λ = hc/(En - Ef )
O átomo excitado num estado En não se vai manter muito tempo nesse estado,
voltará a um estado inferior Em, emitindo um fotão de energia hν
igual à diferença entre a energia En e a energia Em. Se o estado Em não
é o nível fundamental, ele vai descer de novo a um estado inferior, emitindo um novo fotão e assim sucessivamente, em cascata,
até ao estado Ef.
Comprimento de onda do fotão emitido durante uma transição:
hν = hc/λ = En - Em
λ = hc/(En - Em )
Nota: Os níveis de energia do átomo não são somente caracterizados pela
sua energia, mas têm também um momento cinético que é, ele próprio, quantificável e que pode ser caracterizado por um
número inteiro L.
O fotão tem também um momento cinético, o seu spin, que vale 1 ou -1. Logo, para conservar o momento cinético, é
necessário que a transição se faça entre dois níveis em que os L sejam diferentes de 1. Há então transições
"interditas" entre certos níveis.
2. O Laser
2.1 Emissão estimulada
Ao estudar o resultado de Planck que davam a intensidade da luz
emitida por um corpo negro
[ I (ν) = 8πhν3/(c2(e hν/kT -1)) ],
que ele tinha encontrado ao conjeturar que a energia dos átomos era quantificável, Einstein descobre que se pode também
chegar a esse resultado ao supor que a energia da luz é também ela quantificável sob a forma de fotões de energia
hν (o que lhe permitiu, por outro lado, explicar o efeito fotoelétrico
que lhe valeu o Prémio Nobel) e que a probabilidade de transição de um átomo entre dois níveis é proporcional ao número de
fotões com boa energia, presentes na cavidade de um corpo negro. Esta conjetura faz sentido para a transição a um nível
superior, quantos mais fotões houver, maior é a possibilidade que um deles seja absorvido. O que está longe de ser óbvio,
é que isto é igualmente verdadeiro para a desexcitação do átomo, que parece, a priori, um fenómeno totalmente
independente da presença ou não de fotões nas proximidades.
Vejamos o raciocínio de Einstein:
Estudemos o equilíbrio de um corpo negro que contenha átomos de níveis Ef e En
separados pela energia ΔE, que absorvem e emitem fotões de energia hν
= ΔE. Em equilíbrio, são tantos os átomos que absorvem fotões de energia
hν como os que a emitem.
Nf átomos estão no estado Ef e Nn átomos estão no estado En.
Segundo Boltzmann, Nn/Nf = e -ΔE/kT
A probabilidade de um átomo estar excitado no segundo seguinte é proporcional ao número de fotões de energia
hν = ΔE. Ora, I (ν) é precisamente proporcional a este número, logo esta probabilidade
pode ser notada p = Pfn I(ν) e o número de átomos que vão passar ao estado n em cada segundo
é então:
Nfn = Nf Pfn I(ν)
A probabilidade de um átomo emitir um fotão de energia hν = ΔE,
para voltar ao estado f, decompõe-se em dois termos. Uma probabilidade Ps, que é a probabilidade
de transição espontânea que terá lugar sem a presença de fotões na proximidade, e uma probabilidade Pnf I(ν),
devida à presença de fotões (é a probabilidade de emissão "estimulada" pela presença de fotões). Logo, o número de átomos que
vai passar ao estado f a cada segundo será:
Nnf = Nn ( Ps + Pnf I (ν))
Em equilíbrio, Nfn = Nnf, logo:
Nf Pfn I(ν) =
Nn ( Ps + Pnf I(ν)) logo:
Nn/ Nf =
e -ΔE/kT = Pfn I(ν) / ( Ps + Pnf I(ν))
logo: Ps e-ΔE/kT +
Pnf I(ν) e -ΔE/kT =
Pfn I(ν) logo: I(ν) =
Ps e -ΔE/kT/ ( Pfn - Pnf
e -ΔE/kT )
Dividindo numerador e denominador por e-ΔE/kT, obtém-se:
I(ν) = Ps/( Pfne ΔE/kT -
Pnf ), ΔE = hν logo, obtém-se:
I(ν) = Ps/( Pfne hν/kT -
Pnf ).
Se se comparar esta relação com a de Planck: I(ν) = 8π
hν3/c2/(e hν/kT -1)), vê-se que
têm a mesma expressão se Pfn = Pnf (Entre dois níveis, a
probabilidade de emissão estimulada é igual à probabilidade de absorção de um fotão.)
E se Ps/Pfn = 8πhν3/c2,
tem-se então I(ν) = Ps/Pfn/( e
hν/kT - 1 ) = 8πhν3/c2/
( e hν/kT - 1 ), o que é o
resultado de Planck e que valida a existência da emissão estimulada.
Nota: Uma teoria mais recente recorre à natureza de bosão do fotão, onde a probabilidade de ser absorvido é
proporcional ao número n de bosões idênticos já presentes e a probabilidade de ser emitido é proporcional a
n+1. É devido ao facto da probabilidade de emitir um bosão idêntico (mesma energia, mesmo spin e mesma quantidade de movimento,
logo, mesma direção) aumentar enormemente com o número n, que o Laser emite uma luz coerente (fotões idênticos).
Este aspeto não foi mencionado na teoria acima apresentada.
2.2 Princípio do Laser

A existência de emissão estimulada permitiu a tornar realidade uma fonte de luz muito potente e muito direcional, o Laser.
Um conjunto de átomos é mantido num estado excitado por uma fonte de energia exterior (uma lâmpada potente ou uma corrente
elétrica que preenche um nível metaestável, passando por um nível intermédio superior). Escolhe-se um estado metaestável
ou a probabilidade de desexcitação espontânea é a mais baixa possível. Certos átomos desexcitam-se e os fotões emitidos
podem induzir a transição de outros átomos, produzindo então um fotão idêntico que pode, por sua vez, provocar uma nova
transição de um outro átomo. Tem-se um efeito "bola de neve" e pode-se obter rapidamente um grande número de fotões idênticos.
Se se alcança manter os átomos no seu estado excitado "bombeando" permanentemente os e-, pode-se ter uma
produção contínua de luz coerente. Este é o princípio mas, na verdade, os fotões, uma vez emitidos, ficam muito pouco tempo
no meio ativo e têm então poucas possibilidades de induzir uma emissão estimulada. Daí a ideia de os manter encerrados no
meio, colocando dois espelhos extremamente refletores nas duas extremidades da cavidade que contém os átomos ativos.
Assim, os fotões passam e voltam a passar um grande número de vezes, o que aumenta a sua possibilidade de provocar uma
emissão estimulada e, deste modo, a cavidade encontra-se rapidamente cheia de fotões idênticos que acabam por atravessar
um dos espelhos, originando um feixe retilíneo de luz monocromática coerente.
A emissão espontânea perturba o fenómeno pois sendo Ps/Pfn proporcional a ν3,
esta emissão espontânea é ainda mais importante que a frequência da luz emitida ser elevada. É por isso que os
primeiros Lasers estavam feitos com Masers emitindo em micro-ondas. Os Lasers mais potentes são ainda os de infravermelhos
e é muito difícil produzir um Laser UV. Quanto ao Laser X, está ainda em estado de projeto longínquo.
2.3 Monocromatismo do Laser
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Os fotões emitidos pelos átomos excitados não são todos
perfeitamente idênticos, há uma certa dispersão de frequência devida ao efeito Doppler (por causa da agitação
térmica, para os gases, e das interações com os átomos vizinhos, para os sólidos). Existe também o princípio da
incerteza de Heisenberg, que liga a incerteza sobre a frequência ao tempo de permanência do eletrão no nível
excitado, mas é um efeito muito inferior ao anterior.
Tem-se então um conjunto contínuo de frequências, centrado na frequência teórica, e a risca é dilatada. Estando a
cavidade de largura L fechada por dois espelhos, as ondas refletidas interferem com as ondas incidentes
e tem-se um fenómeno de ressonância, em que só subsistem os comprimentos de onda tais que
L = kλ/2
Logo: λ = 2L/k ( k inteiro )
Sendo L muito superior a λ, k é muito elevado e a
diferença entre dois λ e λ'
sucessivos é muito pequena: λ = 2L/k e
λ' = 2L/(k+1)
Δλ = λ - λ' =
2L(1/k -1/(k+1)) = 2L(1/(k(k+1))) = 2L/k² ( k>>1 )
Ora, k = 2L/λ logo: Δλ = λ²/2L e
Δλ/ λ =
λ/2L
(Ex.: Para λ = 6.10-7m e L = 0,3 m , obtém-se Δλ =
6.10-13 m. A largura da risca emitida em λ é geralmente
próxima a 2,5.10-12 m e tem-se então cerca de 4 ou 5 riscas muito próximas que são emitidas pelo Laser. Assim,
ele não é estritamente monocromático mas, em contrapartida, graças à ressonância da cavidade, as riscas são muito finas) |
Traduzido
e adaptado para a Casa das Ciências por Diana Barbosa e Manuel Silva Pinto em outubro de 2011

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